Fotografia: Hugo Lapa
Lembro-me tão bem. A capa era azul e branca, as cores e o padrão dos azulejos que são tão nossos. "Poesia portuguesa para crianças". O livro trazia também um marcador vermelho, cosido como nas agendas. Servia para deixar marcado o meu poema favorito, que relia todos os dias, mais pelo gesto do que pela necessidade - já o conhecia de memória. Foi o primeiro livro que pedi aos meus pais. O segundo foi "O Principezinho". A cada aniversário, Natal após Natal, escrevia listas quilométricas com títulos e autores, os presentes mais bonitos que podia receber.
Espero que a Chloé se apaixone pela leitura, também. Que descubra o prazer de viver em mil países diferentes, que se reconheça em infinitas pessoas imaginárias, e que encontre a sabedoria em cada página que folheie. Espero que goste de palavras, que acredite no poder que elas têm, que saiba dar-lhes valor e que respeite os danos e os milagres que elas contêm.
Hoje, li-lhe, pela primeira vez, um livro completo de palavras que ela não entende ainda. "A mãe que chovia". Fi-lo pelo instituir da rotina, para que ela conheça o objecto e se sinta curiosa com ele. Ouviu a história com atenção, do princípio ao fim, a narrativa que conta o amor entre uma mãe que é a chuva e um menino que não entende as ausências sazonais da progenitora. (Tentou também comer o livro, mas esse será um detalhe a ocultar...) O autor, José Luís Peixoto, é um dos meus favoritos. Este "livro infantil" já o tinha comprado muito antes de sonhar ser mãe. Acho-o lindo, de uma grande delicadeza, e acredito que seja sobretudo uma declaração de amor disfarçada de história. Reconhece-se o estilo e a escrita do autor, inconfundíveis, num registo ao qual não consegue fugir, felizmente!, mas que, para os mais novos, me parece um pouco difícil de entender. Como me disse e bem uma amiga, é um livro mais indicado para as mães do que para as crianças. É, no entanto, um livro perfeito para quem quer tentar descrever o indescritível, e um presente maravilhoso a ter em conta no próximo Domingo.
Que os livros sejam sempre os melhores amigos da bebecas. Mesmo aqueles que parece que não compreendemos. Um dia, vamos lá chegar. ❤
ResponderEliminarComeças cedo e bem a ensinar-lhe o que é bom!