Numa era dominada pela tecnologia, somos engolidos constantemente pela necessidade de estar em todo o lado. Existe uma imposição social que data deste novo século - a de vermos e sermos vistos. Interessa-nos a voz de desconhecidos, seguimos com avidez a realidade mascarada dos outros, tornámo-nos escravos das redes sociais. Contra mim falo - sendo jornalista e blogger, aterroriza-me o vazio da ausência de notícias, perco-me no medo de deixar passar em vão alguma verdade. E com isso, não percebo que estou, isso sim, a deixar passar o crescimento da minha filha. A meus olhos, todos os dias.
Ela ainda não percebe, mas eu sim. Olho para ela e percebo que o seu sorriso não será sempre um céu sem dentes. Sei ela que vai continuar a crescer - já cresceu tanto neste mundo que são seis meses. Mais tarde, vou lembrar-me de, nestes dias, enquanto olhava para o ecrã do meu telefone, me esqueci de a abraçar dentro de uma música de embalar. Vou lembrar-me de que, no momento em que ela era mais minha, eu fui mais do trabalho, fui mais da casa, fui mais da internet, e fui menos dela do que devia.
Justifico o apego ao virtual com a ausência de mundo que vivo por estes tempos. As redes sociais aproximam-me dos amigos que não vejo tanto, dão-me a ilusão de presença em rotinas que agora não tenho, concedem-me um conforto diferente a dias sempre tão iguais. Esqueço-me de que abdiquei de regressar (já) ao trabalho para absorver a vida que cresce nela. Esqueço-me de que essa escolha tem raízes nas saudades que já antecipei, na falta que existirá depois. Esqueço-me da sorte que tantas mães invejam. Esqueço-me do propósito vital para me agarrar ao superficial.
Decidi por isso impor-me um detox digital diário: uma janela de tempo onde existo apenas para brincar com a Chloé, estimulá-la, dar-lhe conforto, paz e segurança. Umas horas só nossas onde o telefone não existe, mas em que há espaço para a rua, para a música, para as páginas do que somos. Para estar com ela e ela comigo. Para fortalecermos os alicerces dos laços que ficarão.
Não quero, mais tarde, pensar nos primeiros anos da vida dela, e sentir a culpa latejar nos dedos que estiveram a dançar num ecrã. Não quero assumir que vivi mais para as aparências do que para a minha família, que vi a minha filha crescer exclusivamente através de uma lente fotográfica, que me afastei sem retorno de sermos só nós duas, sem mais ninguém a ver, para mais ninguém conhecer.
Não retiro às redes sociais o impacto que têm, a inspiração que nos podem trazer, aquilo que de bom têm para me oferecer. São, muitas vezes, a companhia que me rompe a solidão. Retiro-lhes, isso sim, a força do domínio e o tempo que roubam, para me poder assim devolver o equilíbrio de as saber utilizar bem, no ritmo certo, sem esquecer tudo o resto.
Sem esquecer tudo.
Sem esquecer a Chloé.
Não quero, mais tarde, pensar nos primeiros anos da vida dela, e sentir a culpa latejar nos dedos que estiveram a dançar num ecrã. Não quero assumir que vivi mais para as aparências do que para a minha família, que vi a minha filha crescer exclusivamente através de uma lente fotográfica, que me afastei sem retorno de sermos só nós duas, sem mais ninguém a ver, para mais ninguém conhecer.
Não retiro às redes sociais o impacto que têm, a inspiração que nos podem trazer, aquilo que de bom têm para me oferecer. São, muitas vezes, a companhia que me rompe a solidão. Retiro-lhes, isso sim, a força do domínio e o tempo que roubam, para me poder assim devolver o equilíbrio de as saber utilizar bem, no ritmo certo, sem esquecer tudo o resto.
Sem esquecer tudo.
Sem esquecer a Chloé.
0 comentários:
Enviar um comentário