A maternidade aproxima.



Lembro-me de pensar o contrário. Diz-se muito isso; que quando um bebé vem, os outros vão-se. Havia no nascimento da Chloé a promessa implícita da solidão. Imaginava-nos - o choro dela a ecoar-me nos ouvidos, as duas a sermos as únicas pessoas do mundo. 

Percebo agora: os outros são a ocasião. O jantar a que faltamos, a viagem que recusamos, o encontro que desmarcamos no último momento, à boleia de uma noite sem dormir. Também existe a antítese, disfarçada de entendimento, aceitação e insistência. As amizades que temia perder renovaram-se, duplicaram-se nos laços. Eu não deixei de importar. Agora, importamos as duas.

No entanto, ser mãe levou-me ainda mais além.  

Há umas semanas, recebi, pelo facebook, a mensagem de uma amiga perdida no egoísmo da juventude. Não falávamos há cinco anos. Nas suas palavras, li a maturidade que então nos faltou, o carinho que ainda assim nunca morreu, e um entusiasmo que me comoveu. O entusiasmo era a minha filha. 

Foi nesse momento que senti, pela primeira vez, o verdadeiro valor deste espaço - aquele que reside nas pessoas. Esta reaproximação foi o gatilho para uma série inesperada de pedidos de desculpa, mensagens de parabéns, demonstrações de afecto. Começavam, como a primeira, com um "li o teu blog". Acabavam, como na primeira, com as assinaturas de quem a vida me levou, para através da Chloé nos devolver. 

Neste mês de ausência, acumulei histórias para contar e pedidos para as escrever. Voltei, mais calma nas circunstâncias e menos folgada no tempo, mas na certeza de que as minhas palavras têm vida, valor e importância - para quem esteve sempre, e para quem quer agora estar. Obrigada. 

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