O tempo ainda guarda Madrid a formigar-me a ponta dos dedos. Era Outono quando cheguei, o sol confundia-se com os gritos na rua, e cheirava muito a café. Passaram-se cinco anos, ou talvez tenha sido só um sonho. Vivi numa cidade que era um ponto num mapa, mas que agora é o maior nome da saudade.
Todas as noites, Madrid diz-me ao ouvido: és capaz. Pensar nesses dias é lembrar-me de uma luta contra o desconhecido, de estar sozinha e de isso não importar, de caminhar pelas ruas que escrevi em papel de jornal e de nelas me ter encontrado. Foi Espanha quem me fez jornalista e foi em Espanha que me fiz mulher.
Quando vi esta camisola na Zara, soube que ela contava a minha história. É na voz macia que me veste que ouço a independência que conquistei, a liberdade que me moveu, a coragem que sei que tive que ter e a persistência que ainda tenho. Comprei-a: como lembrete e como lição.
Gostava muito de conseguir proporcionar à Chloé o usufruir das experiências que o mundo nos oferece. Quero viajar com ela como companhia, quero que conheça as diferenças que nos unem a outros países, as semelhanças que nos afastam de outros continentes. Espero que se interesse pelas culturas que não vêm nos livros, pelas histórias que só ela pode escrever nos seus passos e através do seu olhar. Estimulamo-la para que tenha sempre curiosidade, para que compreenda, e para que abrace o estranho com respeito e sentido de pertença - para que seja mais rica, se apaixone e se reencontre noutras paisagens, noutras paragens, noutras linguagens.
Encontrei o meu lar em Madrid. Refi-lo aqui, nas mesmas fundações e sob os mesmos princípios, com o Hugo - e, depois, no berço em que recebemos a Chloé. É isso que, no fim, a minha camisola nos quer dizer: que o lugar onde há amor é o lugar no qual devemos permanecer, mas que existem outros onde devemos igualmente pousar.
Filipa: Camisola: Zara Calças: Calzedonia Bomber: Guess Relógio: Aldo Chocker: Bershka
Fotografia: Hugo Lapa
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