Manifesto pessoal anti-padrões de beleza.


Acredito que aconteça a todas as mulheres, quase sempre numa fase estrutural do nosso desenvolvimento enquanto pessoas. Olhamo-nos ao espelho e sentimo-nos prisioneiras de padrões nos quais não encaixamos. Tentamos corresponder a impossibilidades, exigências que a sociedade descreve como ideais. Massacramos o corpo e o espírito na procura da aceitação alheia, mas não nos sentimos bem na pele que somos. 

Essa ditadura da imagem repercute-se em todos os aspectos da nossa vida, desde a alimentação que nos impõem às tendências de moda que nos proíbem. Aqui me confesso, de alguma forma, culpada também: quando inicialmente me inscrevi num ginásio, fi-lo porque sentia que só teria valor dentro de um corpo "bonito". É natural que os condicionalismos com que vivemos desde sempre nos toldem o pensamento, cabendo ao amor próprio a capacidade de nos libertar. Nós não somos as culpadas pela forma como nos vemos, somos as responsáveis pela urgência de o mudar. 

Sei que as vivências que experimentamos também ajudam muito a encontrar essa tranquilidade e essa aceitação na nossa forma de estar. A idade traz-nos novas perspectivas. Ter sido mãe, por mais redutora que esta frase possa ser, também me ajudou a sentir o meu corpo de outra forma. Olho-o com respeito e admiração. Abraço-o porque teve a capacidade de criar e de sustentar uma vida, de ser a primeira casa da Chloé, um abrigo que lhe proporcionou segurança para crescer. Agradeço-lhe por ser um poço de força, capaz de aguentar horas de provações, de me levar a todos os lugares que quero conhecer, de ser fonte de ideias e de pensamentos individuais e livres. 

Não caio na hipocrisia de dizer que estou totalmente satisfeita com as mudanças que enfrento todos os dias. Quero emagrecer, mas quero fazê-lo por mim, pelo desafio que representa, pela força e pelo bem-estar que treinar me proporciona, e pela saúde do meu cabelo e da minha pele. Quero emagrecer porque é mais magra que melhor me sinto - mas comigo, e já não com os outros. É por isso que não me escondo dos olhares e das vozes que criticam os quinze quilos a mais que carrego, seis meses após o parto. Até porque, convenhamos: os quilos que tenho a mais sou eu quem os define. Se quiser continuar a pesar 65kg, então é esse o meu peso ideal. Se quiser voltar a pesar 50kg, também é esse o meu peso ideal. O meu corpo é bonito, assim, da maneira que eu entender que ele deve ser. E nele, eu posso vestir e ser o quem eu quiser.

Privilegio o conforto. Ignoro as regras que dizem que mulheres baixas e "roliças" não podem usar calças com dobras, muito menos sem um salto para compensar. Encurta a perna, e depois? Vejo-me ao espelho, e, do alto do meu 1,59m, sinto-me bem. E não é sentirmo-nos bem o objectivo de tudo isto? 


Lenço: adolescência Camisola: Stradivarius Calças: Calzedonia Ténis: Converse Mala: Miss Jeans Batom: Sephora 
Fotografia: Hugo Lapa

CONVERSATION

0 comentários:

Enviar um comentário

Back
to top