Projecto De Zero a Zara: Como começar?



Sentada na minha cama, lembro-me de olhar as prateleiras vazias, de ver os cabides pendurados numa ausência de tudo, e de pensar: agora é que não tenho, mesmo, nada para vestir. Passei a minha adolescência com um armário cheio de peças de roupa compradas por impulso, os primeiros anos da vida adulta com um armário com o qual não me identificava, e os últimos sete meses com um armário que sobrevivia à custa de dois pares de calças e três t-shirts. 

Já tinha falado aqui da decisão de renovar totalmente o meu estilo e a minha forma de consumir moda. Apesar de saber ser esse o único caminho para estar confortável na minha pele, praticar o desapego não foi, nem nunca será, fácil para mim: colecciono cromos de futebol, recortes de jornal, livros, amores e medos desde que me conheço. Fiz pilhas com as peças que não usava há muito tempo, e mesmo sabendo que dificilmente as voltaria a usar, desfazer-me delas foi um acto de coragem complicado. 

Não existe segredo: construir um armário do zero é um processo. Exige uma noção bem definida da identidade que queremos desenvolver, algum desafogo económico e muita paciência. 

Mas como começar?

A primeira fase é a da selecção. Eu dei quase toda a minha roupa, mas guardei algumas peças que, por um motivo ou por outro, achei que continuava a fazer sentido usar, principalmente alguns básicos em bom estado, peças intemporais (um bom biker de cabedal, por exemplo) ou tendências passadas que voltaram agora a aparecer nas revistas, como este bomber jacket ou umas alpercatas compradas há dois anos e que nunca tinha usado. 

Escolher aquilo que permanece e aquilo que parte impõe algum discernimento. É importante olharmos com honestidade para a nossa roupa. Não uso esta peça há mais de seis meses? É razoável pensar que, a médio prazo, estas calças vão voltar a servir-me? Consigo conjugar esta camisola com outras peças que tenho? Ainda gosto destes sapatos? Mesmo tendo sido uma compra cara, este casaco continua a encaixar no meu estilo? Essas respostas ajudam a definir o destino a dar a cada peça. 

Ir às compras, a segunda fase deste projecto, é a parte divertida, mas aquela que, pela responsabilidade da decisão que tomámos, obriga a mais sacrifícios. Não vou mentir - estou apaixonada pelo biker amarelo da Zara, uma peça incontornável desta estação que gostava mesmo de ter. Ainda assim, neste momento, preciso de pensar com a cabeça mais do que com o coração, e focar-me nos essenciais de todas as estações. Só depois de os ter posso começar a pensar em dar ao meu armário cápsula - trinta e sete peças, a maior parte delas básicas - os toques de personalidade e cor que o vão tornar (m)eu. Esta racionalidade é indispensável, porque me permite não só poupar dinheiro como evita, numa fase tão precoce de reconstrução de estilo, que adquira peças que, para o ano, pela sua temporalidade, não vou já querer usar. 

Defini por isso mesmo uma lista com as prioridades em falta no meu armário. É desafiante mas divertido pensar em roupa que me permita criar looks mais elegantes, sem perder jovialidade. Ter peças que ligam entre si e que permitem inúmeras conjugações é a chave: repetimos roupa mas não repetimos looks. 

É importante investir o dobro em partes de cima porque são elas que mais versatilidade oferecem a um look. Com umas boas jeans, umas calças pretas e outras brancas, uma saia preta e uma de ganga, e uns calções, tenho já uma boa base, que posso trabalhar com diferentes tops, camisas, t-shirts (e casacos!). Basta-me acrescentar a esta base um vestido e um macacão. Os acessórios são também eles essenciais, principalmente por ter tão pouca roupa. Um bom cinto, um chapéu, uma mala de qualidade ou um lenço, por exemplo, são peças que transformam qualquer conjugação mais simples, dando-lhe personalidade e, às vezes, até um toque mais divertido, desconstruindo um look mais clássico. 

Claro que este é um investimento que se prolonga no tempo. Com pouco dinheiro para gastar, é uma boa ideia dedicar cada mês a um tipo de compra diferente. Como estamos a entrar no Verão, Maio foi, no meu caso, dedicado às peças brancas (como já puderam ver aqui e aqui). Com o aproximar do Inverno, fará então sentido procurar boas peças em tons mais escuros, bem como apostar num casaco de cor neutra, de corte recto e que não passe de moda. 

Descobri uma regra que me parece fazer todo o sentido quando pensamos na composição do nosso armário, de forma a poder estar sempre bem: 50% de peças clássicas, 40% de acessórios e 10% de peças fast fashion. É essa proporção que estou a tentar alcançar. 

CONVERSATION

1 comentários:

  1. Boa tarde! Fiz o workshop dos calções consigo e estou a descobrir agora o blog. Deparei-me que este post e reconheci-me. Ando a tentar ganhar coragem para fazer isto e tenho arranjado a desculpa do "não tenho tempo", mas tenho mesmo que praticar o desapego em relação a tudo lá em casa, pois é o 2º post que leio sobre o assunto e parece-me uma espécie de sinal. Boa sorte para o blog e certamente tem aqui uma seguidora. Beijinhos e felicidades**

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