Mãe a tempo inteiro e a importância de sair de casa.


Ser mãe a tempo inteiro já me fez sentir completamente isolada do mundo. Isolada ao nível "ficar em casa com um bebé que chora constantemente, não despir o pijama o dia todo e tomar banho quando e se der jeito". Já me senti muito sozinha. Pode ser depressivo. 

Pode ser.

Mas não tem que sê-lo. 

Podia ter deixado as paredes fecharem-se sobre mim. Podia ter-me deixado enterrar por debaixo das pilhas de roupa e de louça para lavar. Podia evitar os 45 minutos que demoro a arranjá-la, vestir-me e maquilhar-me e ficar enfiada em casa a semana inteira, sem distinguir os dias que passam sempre iguais. Podia ter-me afundado na rotina. 

Podia.

Mas não o fiz.

Seja por escolha própria ou por imposição da vida, ser mãe a tempo inteiro é um trabalho solitário, sim. Não existe interacção com adultos na maior parte do dia. Não falamos com ninguém, ou, pior ainda, falamos connosco mesmas - como aquelas pessoas para quem apontámos o dedo na rua dizendo que eram "maluquinhas". Não respiramos ar puro, não atravessamos a rua até ao carro, não saímos nem para ir ao supermercado (agora já podemos encomendar online e vêm entregar-nos as compras a casa, não é?). Há dias em que sentimos vontade de bater com a cabeça nas paredes. Há momentos em que nos sentimos prisioneiras dentro do lugar a que um dia chamámos lar. 

Pode ser assim.

Mas não tem que sê-lo. 

Há um segredo que mudou o meu estado de espírito, que me trouxe outra calma na forma como lido com as situações mais complicadas do dia-a-dia da Chloé, que me faz encarar com outro ânimo as tarefas de dona de casa e que me renova a disposição: aprendi a sair de casa. Aprendi a ignorar a roupa no estendal e a ir dar uma volta ao quarteirão. Aprendi a deixar o pó "para amanhã" e ir ao café da esquina beber um sumo, comer um pãozinho de chia e levar com o sol na cara - a Chloé ainda está a aprender a lidar com esta parte: odeia pão e sofre muito com a claridade, mas é bom para ela também. 

Quando sentimos o isolamento a chegar, acompanhado de pensamentos destrutivos. Quando olhamos para o nosso bebé a chorar e de repente o grito fica-nos preso na garganta. Quando temos uma criança de três anos a destruir-nos a casa. Quando sentimos falta de contacto com adultos, mesmo aqueles que não conhecemos, e que apenas nos sorriem como quem diz "boa tarde". Quando quisermos sentir que ainda temos algum controlo sobre as nossas vidas. 

Apenas isto: sair de casa. 

As coisas vão logo parecer-nos melhores. É instantâneo. A roupa vai continuar no estendal. O pó vai acumular-se. Aprendi a dizer: não importa. Esse tipo de coisa pode esperar. A minha sanidade não. 

Posso até não estar arranjadinha. Posso ter o cabelo apanhado num coque despenteado e estar com as mesmas leggings há uma semana. A Chloé pode ainda estar de pijaminha e a minha mãe ficar escandalizada com isso. Uma vez mais: não importa. É preciso combater a urgência de criar desculpas para não sair. É preciso viver um bocadinho para lá da porta. Mesmo que, agora, a nossa noção de viver seja "comprar um gelado e ficar sentada num banco de jardim a olhar para os passarinhos, enquanto a Chloé faz uma sesta de exactos trinta minutos". 

Às vezes, isso é mais do que suficiente. 

CONVERSATION

1 comentários:

  1. Ainda que sejam coisas impossíveis de comparar, porque no meu caso não falamos de mães e bebés (e crianças) que exigem atenção, acho que as horas que passei a ler no café da esquina me salvaram muitas vezes de me passar ainda mais.era tudo o que tinha e até onde podia ir, mas era tudo o que me deixava fugir ao trabalho em casa.

    Nunca deixes de o fazer. A Chloé precisa, mas tu também. Interagir, apanhar ar, respirar fundo. La fora está o mundo que vocês precisam de abraçar. Há que ir ao encontro dele. Mesmo que sejam 30 minutos. Podem ser salvadores. ❤

    ResponderEliminar

Back
to top